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Apresentamos a seguir uma polêmica do Partido Operário Internacionalista-Quarta Internacional do Chile, integrante da Fração Leninista Trotskista Internacional, a propósito do programa para o triunfo da revolução na Grécia

Duas estratégias para o proletariado internacional:

OU PROGRAMA REVOLUCIONÁRIO PARA QUE SE ABRA A REVOLUÇÃO
E O PROLETARIADO CONQUISTE O PODER,
OU PROGRAMA REFORMISTA PARA SUBMETER AOS EXPLORADOS À BURGUESIA

Em Grécia, hoje, vive-se uma situação pré-revolucionária aguda onde, no meio de uma fenomenal crise do sistema imperialista mundial, os de acima não podem governar como antes e os de abaixo já não querem ser governados. A crise da economia grega é só a expressão nacional da bancarrota generalizada dos Estados imperialistas europeus, que saíram a salvar da quebra à banca e aos monopólios imperialistas. O ataque que hoje descarregam sobre as massas, nesse país e em toda Europa, é a única maneira que tem a burguesia para recuperar parte dos valores por 90 trilhões de dólares que em Wall Street se gastaram a conta do que o trabalho humano ainda não produziu.

Por isso, os acontecimentos na Grécia concentram a polarização e choque entre as classes e a guerra civil encarnada, que está estabelecida a nível mundial, entre os exploradores e os explorados. Mas ademais a situação é tudo o revolucionária do que a direção reformista que tem a sua frente lhe permite ser. É que mil tentativas fizeram o proletariado grego para entrar em manobras de revolução, mas suas direções lhe impedem chegar ao triunfo.

Já entre finais de 2008 e princípios de 2009 as massas gregas tinham posto nas ruas o grito de guerra de “Abaixo Karamanlis! Abaixo o Estado assassino!” Tomaram as ruas impulsionadas pelo ódio de classe ante o assassinato de Alexandros Grigoropulos perpetrado pela polícia, combinado com o ataque generalizado da burguesia e o Estado a suas condições de vida. Os explorados na Grécia com suas barricadas se enfrentavam fisicamente com as forças repressivas, mobilizavam-se em massa e tomavam estabelecimentos. Então, a classe operária e a juventude combativa já identificavam aos inimigos dentro de suas filas e os enfrentavam como o fizeram com a burocracia fura-greve do KKE (Partido Comunista grego), que foi jogado a pontapés da central de Tesalonica. Assim os explorados na Grécia entravam em luta política de massas, ameaçando com abrir a revolução, pondo em xeque ao odiado governo assassino do ND (Nova Democracia) e ao regime bi-partidista grego.

No entanto, o anarquismo e os renegados do trotskismo, correntes que influenciam a vastos setores da vanguarda operária e juvenil, negaram-se a propor a tarefa superior do proletariado grego que precisava avançar numa ação independente de massas que desarticulasse ao regime, ao Estado e ao governo abrindo assim a revolução. Foram inimigos disso e de chamar aos soldados, que se negavam a reprimir seus irmãos de classe, a romper com a casta de oficiais, pilar fundamental do regime.

Nesse momento, para desviar o combate revolucionário das massas gregas, o imperialismo ianque, europeu e grego, da mão da Goldman Sachs e a JP Morgan, impuseram eleições antecipadas para legitimar ao regime e suas instituições fazendo uma troca de governo com a cara social-democrata de Papandreu (PASOK, Partido Socialdemocrata Grego, NdT) que em realidade seria o continuador de Karamanlis. Nesta vergonhosa armadilha entraram todas as direções do proletariado já que ninguém a denunciou e muito menos advertiu do que Papandreu seria a garantia de aplicar esse feroz plano do imperialismo para descarregar sua crise sobre o proletariado. O PC (KKE), como não podia ser de outra maneira –os mesmos que chamaram agentes da CIA aos jovens sublevados das barricadas- e toda a esquerda reformista, incluído o anarquismo, somou-se a uma ou outra coligação eleitoral e assim legitimou ao novo governo e se fortaleceu um regime que tinha ficado encostado pelos embates revolucionários das massas.

Dessa maneira se constituiu um verdadeiro frente democrático com a cara “bonachona” de Papandreu contra o “conservador” Karamanlis. Esse frente democrático, representante dos mesmos interesses que Karamanlis, instalou-se para enganar às massas e desviar suas ações revolucionárias contra o regime pela via eleitoral, com demagogia pacifista e bonachona. Assim, “legitimava-se” o Estado imperialista grego, que não só aplicava o plano de ataque às conquistas operárias senão que, e já sob o governo de Papandreu, redobrava a ofensiva repressiva: todas as noites a polícia e suas forças especiais faziam repressões massivas nos bairros operários e de imigrantes, encarcerava ao melhor da vanguarda combativa e utilizava às bandas fascistas, armadas pelo grande capital para amedrontar aos jovens e operários em luta atacando os locais das organizações operárias, como os do EEK e os anarquistas.

As massas com suas heróicas ações se punham à ofensiva enquanto o conjunto das direções que estavam a sua frente, os anarquistas e restantes reformistas, diziam que só tinha condições para resistir. Foi esse acionar o que lhe abriu o caminho à burguesia, que com frases doces e pancadas preparava e aprofundava então uma verdadeira contra-ofensiva.

O cretinismo sindicalista do EEK, primo irmão do cretinismo sindicalista do anarquismo

Em seu balanço da greve geral revolucionária do 5 de maio passado, Savas Michael, o dirigente do EEK, diz: “Não pagaremos as dívidas dos ladrões capitalistas! Repudiamos a dívida aos usurários internacionais! Fora o FMI, a União Européia do grande capital e o governo do PASOK! Greve Geral indefinida para abrir o caminho ao poder operário e ao socialismo! (“O vulcão grego: a Greve Geral do 5 de Maio em Grécia” - Em negrito inseridos)

Em primeiro lugar, o EEK diz isto pese a que em dezembro de 2008 a classe operária embestou contra o regime grego e o governo Karamanlis, com uma ação independente de massas que não só superou à greve geral senão que ademais a subsumiu: com combates de barricadas e um estado de revolta generalizado que durou dezenas de dias. De igual modo sustenta esta política ainda quando a classe operária grega vem de ter desenvolveu, só em 2010, SETE (!) greves gerais, e ainda não conseguiu parar o ataque.

Em segunda instância, falou opondo-se às lições do marxismo revolucionário já que lhe diz à vanguarda operária que o máximo que pode fazer em sua luta contra o domínio da burguesia, seu governo, regime e Estado é a greve geral, negando as perspectivas de combates superiores que essa medida de luta abre.

O EEK, ao igual que em dezembro de 2008 e os primeiros meses de 2009 (quando persistiam os grandiosos combates dos explorados gregos), outra vez dá mostras de seu exacerbado cretinismo sindicalista, que faz um fetiche da greve geral. O EEK se levanta contra o marxismo que estabeleceu como uma questão elementar da estratégia revolucionária que a greve geral propõe o problema do poder, mas não o resolve.

Em essência o mesmo fazem as direções reformistas em toda Europa: em momento que a classe operária briga por responder à guerra de classes que declarou a burguesia, as burocracias sindicais secundadas pelos partidos e direções social imperialistas chamam a paralisações e lutas de pressão, para morigerar a crise, para regular o ataque do grande capital contra o proletariado e os explorados.

Chamam a uma greve geral para o 29 de setembro! Na Europa, quando os planos de demissões como na Itália, as rebaixas salariais, a expulsão dos imigrantes, o ataque às aposentadorias etc., já foram lançados, ou bem aprovados pelos parlamentos fantoches, ou bem sacado como decreto (medidas provisórias, NdT). Uma canalhada. Enquanto deixam isolada a greve do metrô na Espanha e a luta do proletariado grego que vem de fazer sua SÉTIMA greve geral. É que foram chamados a cumprir o pérfido papel de dividir as filas operárias e deixá-las isoladas país por país, submetidas a suas respectivas burguesias.

Os Altamiristas não inventam nada novo, sua estratégia é uma reedição disfarçada de trotskismo da política anarquista. Em última instância o que estão propondo é que “o poder operário” se conquista com os sindicatos, como se estes pudessem tomar o poder. Por que não deixam os rodeios, deixam de falar em nome do trotskismo e propõem “um governo dos sindicatos”? Efetivamente, a direção do EEK é o último elo da corrente de direções que impedem que a enorme energia despregada pelas massas gregas se organizem em soviet –os órgãos da ditadura do proletariado- para organizar um verdadeiro escarmento decisivo à burguesia imperialista.

Em mãos dos trabalhadores a greve geral é um instrumento de luta contra o jugo capitalista e em mãos das direções reformistas, uma corda ao pescoço do proletariado para afogar suas energias revolucionárias

O marxismo revolucionário sempre considerou a greve geral não como um fim em se mesmo, senão como um elemento importante dentro da estratégia revolucionária. Assim dizia Trotsky, contra o fetichismo da greve geral que fazia o stalinismo a princípios dos 30 na Alemanha, durante seu terceiro período, para renegar de entregar-lhe ao proletariado uma perspectiva clara de triunfo sobre o inimigo de classe: “Mas a luta grevista dos bolcheviques sempre fazia parte de uma estratégia geral, e os operários avançados viam claramente o laço que unia à parte com o tudo.” Para propor mais adiante: “A greve deve ser um elemento importante num plano estratégico e não uma eclosão que afoga toda estratégia.” (1932 “A estratégia das greves” da luta contra o fascismo em Alemanha).

Por isso é que nesse mesmo trabalho Trotsky também esclarece quais são as perspectivas que abre a greve geral: “A greve geral foi sempre um instrumento de luta contra o poder estabelecido do Estado, que dispõe dos transportes ferroviários, do telégrafo, das forças militares e policiais, etc. Paralisando o Estado a greve geral ‘inspira medo’ às autoridades, ou bem cria as condições para a solução revolucionária do problema do poder.” (Idem, em negrito inseridos). Evidentemente em Grécia, com o movimento operário sob contenção relativa das direções reformistas, que estão evitando que desencadeie a luta pelo poder, as greves gerais até o momento não conseguiram ultrapassar o primeiro caráter que assinala Trotsky, o de inspirar “medo às autoridades”, ou seja, o de pressionar de maneira extrema ao governo e ao regime. Mas isto se explica não porque as massas não tenham ultrapassado o caráter de pressão extrema que os reformistas pretendiam dar-lhe a suas grandiosas ações, senão porque em definitiva foram os reformistas quem conseguiram impor-se em sua luta contra a revolução proletária.

Nos acontecimentos da Grécia se estabeleceu um ângulo de 180º entre a direção que percorreram as massas e o curso que, a toda costa, jogaram-se a impor as direções traidoras. Efetivamente, ao impedir que a luta das massas gregas superasse as fronteiras da greve geral revolucionária do 5 de maio, os reformistas conseguiram fechar as perspectivas que para o marxismo revolucionário abre toda greve geral, tal qual o expressava Trotsky na França pré revolucionária de 1934, onde os trotskistas livrassem uma batalha para que se abrisse a revolução e a luta pelo poder: “Acima de toda greve geral não pode ter senão a insurreição armada. Toda a história do movimento operário testemunha que toda greve geral, quaisquer que sejam as consignas sob as quais tenha aparecido, tem uma tendência interna a transformar-se em conflito revolucionário declarado, em luta direta pelo poder.” (“A onde vai França” 1934, em negrito inseridos).

Os altamiristas no presente estão chamando a uma greve geral indefinida para abrir o caminho à luta pelo poder, quando já as recorrentes greves gerais, como toda greve geral que abarca desde o primeiro até o último dos explorados, propuseram com agudeza uma e outra vez o problema de que classe governa a nação.

A posição da direção do EEK termina sendo um impedimento para que estas derroquem a Papandreau, destruam o regime e pulverizem a maquinaria estatal. É que só depois de que o proletariado fizesse 1, 2, 3, 4 e 5 greves gerais levantaram a consigna de fora “Papandreau”. Uma verdadeira tragédia! Dizem-no quando a energia das massas começa a acabar-se provisoriamente e a burguesia festeja por meio seus vocifero do diário “O País” que na crônica do 8 de junho diz: “mas uma baixa participação ofereceu uma sinal da crescente fadiga dos protestos contra as medidas de austeridade”.

Estes vulgares sindicalistas, onde a greve geral é uma verdadeira necessidade das massas para centralizar suas forças e golpear como um só punho contra o inimigo de classes e suas instituições, a ocultam e jogam às escondidas com ela. Aí esta o caso da Espanha, onde condenam ao isolamento aos trabalhadores do Metrô em luta com sua política de não chamar justamente a impor a greve geral, igual que no caso do Portugal ou Irlanda etc. No entanto na Grécia, aplicam a política contrária, transformam a greve geral numa ferramenta de desgaste das energias das massas, dando-lhe um caráter de greve “de braços caídos”… uma vergonha.

Não é de estranhar, já em 2008, o EEK não chamou a pôr em pé os soviets e dividir ao exército para, derrotando a Karamanlis, abrir a revolução e preparar o caminho da insurreição. Isto em momentos que as massas com seus combates nas ruas, com suas barricadas e suas três greves gerais tinham posto em xeque a esse regime odiado, ao Estado assassino e ao governo. Depois, quando esse combate era levado à armadilha eleitoral, a direção do EEK não o denunciou, e longe esteve de utilizar as eleições como uma tribuna desde a qual chamar à classe operária a não deter a ação extra-parlamentar e a centralizar suas forças, pôr em pé seus organismos de autodeterminação e preparar a autodefesa. E quando Papandreu lançava o ataque e a classe operária respondia com duas greves gerais, conquistadas apesar e na contramão da burocracia sindical -socialdemocrata e estalinista-, o EEK não lhe disse às massas que o primeiro passo para enfrentar este ataque era atirar abaixo a Papandreu.

Quando, sustentado pela burguesia européia e ianque, Papandreu enviava o “plano de ajuste” ao parlamento para que seja legitimado, enquanto secionava no meio de um combate feroz das massas nas ruas que já conquistavam sua quinta greve geral, o EEK não chamou a destruir esse parlamento fantoche odiado pelas massas, não impulsionou o grito que em suas ações as massas impulsionavam: “Que se vão todos que não fique nem um só” da revolução de 2001 na Argentina, e também não lhe disse à classe operária em luta que a essa gruta de bandidos saqueadores da nação tinha que lhe opor um grande Congresso Operário, de soldados e de camponeses pobres que destruísse ao Estado, que impusesse um governo operário e camponês que expropriasse aos exploradores, único caminho para parar o ataque.

E agora dizem “fora Papandreu”, falam do “poder operário” e de abrir o caminho ao “socialismo”? Como se fora pouco, querem-lhe fazer crer às massas, que já protagonizaram SETE greves gerais só neste ano, que isto se conquista com uma nova greve geral, mas esta vez indefinida. Quanto cinismo!

Por isso é tão nefasta a política do EEK para o combate das massas gregas, já que sem lugar a dúvidas estas tenderam a transformar sua luta num conflito declarado pelo poder, isto é, na insurreição. Que foi senão a mobilização no centro de Atenas a mais de 200 mil operários e explorados durante a greve geral do 5 de maio, onde tentaram assaltar a cidadela do poder, como os ministérios, o palácio de governo e principalmente a gruta de delinqüentes pagados do parlamento ao grito de: "Que se queime, que se queime, o bordel do Parlamento!", com consignas contra os polvos do FMI e a reacionária UE; as multidões e as combativas marchas desenvolvidas nessa histórica jornada em Tesalónica, Patras, Ioannina ou a ilha de Creta; a destruição dos bancos e símbolos do grande capital; a luta de rua e o combate de barricadas. Insistimos, aquele foi um grito de guerra das massas que clamava aos quatro ventos por uma luta superior: a insurreição. E mais ainda, a nova negativa dos soldados rasos a reprimir os seus irmãos de classe revela que o proletariado aponta a elevar-se a esse estádio de luta. Isto é que se deram, uma e outra vez, as melhores condições para conquistar os organismos centralizados de democracia operária –os soviet- que imponham um duplo poder ao interior da Grécia, isto é, por um lado o decadente poder dos capitalistas e em seu oposto o nascente poder dos explorados auto organizados, única forma de que os revolucionários ganhemos a direção das massas caminho à preparação da insurreição triunfante. Disto último se declararam inimigos os “estrategistas” do EEK.

Se o EEK se pregueou a cada uma das greves gerais e ao calor delas não proponho a briga por preparar e organizar a insurreição desde seus organismos de duplo poder (que já surgiram embrionariamente e há que generalizar, coordenar, centralizar e armar nacionalmente), explica-se nada mais e nada menos que por seu sindicalismo. Pois, não há caminho ao poder operário nem ao socialismo se não é lutando por pôr em pé os soviet e a milícia armada, e o EEK demonstrou ser inimigo desta perspectiva.
Justamente, fechando o caminho aos soviets e ao armamento do proletariado, as direções reformistas, como o EEK, impediram uma insurreição ou semi insurreição que varresse com o governo e o parlamento do capital financeiro grego, sócio menor do Bundesbank, a Goldman Sachs e a JP Morgan.

A via pacífica do EEK para “abrir o caminho ao poder operário e ao socialismo”, inimiga da estratégia soviética

No entanto, si bem a política do EEK está atravessada por um conteúdo idêntico ao cretinismo sindicalista dos anarquistas para com a luta do proletariado grego e europeu, seu cinismo é muito maior já que estes ex trotskistas o fazem em nome da luta pela tomada do poder, da ditadura do proletariado e o socialismo, ao que somam seu auto-proclamação de trotskistas.

À direção do EEK lhe cabe num 110% o que dizia Trotsky a quem enfocavam a greve geral por fora da luta pelo poder, ainda quando a greve demonstra ser de massas e expressa a disposição à luta dos explorados, pondo sobre a mesa a pergunta de quem “é o dono de casa?”: “Os chefes do proletariado devem compreender esta lógica interna da greve geral; caso contrário, não são chefes senão diletantes e aventureiros. Politicamente, isto significa que os chefes estão obrigados a propor ao proletariado o problema da conquista revolucionária do poder. Em caso contrário, não devem aventurar-se a falar de greve geral…Ou a capitulação completa ou à luta revolucionária pelo poder: tal é a alternativa que surge de todas as condições de crise atual. Quem não tenha compreendido esta alternativa, nada tem que fazer no campo do proletariado.” (Idem, destacados no original).

A greve geral indefinida que propõem os altamiristas nada mais é do que um novo passo desses reformistas na conspiração contra a luta das massas, já que estas não podem permanecer indefinidamente em greve geral, devem desenvolver uma ação histórica independente que lhes permita derrotar ao inimigo. O marxismo revolucionário já combateu a bakuninistas e economicistas em que sobre valoravam o papel da greve geral com o fim de que o proletariado não desafiasse e derrotasse o poder político da burguesia.
O EEK prega a via pacífica ao socialismo, propõe que se chega ao “poder operário” com uma greve geral indefinida. É uma tragédia para a classe operária grega! O EEK não sacou nenhuma lição da revolução chilena, quando Fidel Castro pessoalmente lhe fez crer às massas chilenas que se podia realizar o socialismo pacificamente, pela via eleitoral, sem expropriar à burguesia, aos monopólios, seus bancos, porque isso se garantia com o só fato que o “colega Allende estivesse no poder”. Assim, e desarmando os cordões industriais, preparou-se o caminho para que Pinochet e suas forças armadas assassinas dessem seu golpe, impondo uma ditadura militar que lhe custasse a vida à heróica vanguarda operária chilena.

Justamente o chamado desta organização a uma greve geral indefinida para conquistar o “socialismo”, deixando de lado a destruição do Estado burguês, a tomada do poder político e a organização do proletariado como nova classe dominante de um novo Estado, o Estado operário, dá fé ante o proletariado de que ao Estado burguês se o pode pressionar de maneira extrema até chegar ao “socialismo”. Assim, todo seu programa impede que as massas em seu curso de luta superem as barreiras da democracia burguesa. Tragicamente a eles lhes fica como uma roupa à medida o que dissesse Trotsky nos 30 contra os anarco sindicalistas espanhóis e seu cretinismo sindicalista: renegar dos soviet armados, que devem constituir-se nos organismos para preparar a insurreição e a tomada do poder, significa deixar as organizações operárias e o poder político em mãos do reformismo e a burguesia respectivamente, isto é, em mãos de quem o detentam. É mais, nem sequer o EEK, corrente cujos locais foram atacados pelas bandas fascistas organizadas pelo grande capital, levantou um chamado de emergência para estabelecer o armamento generalizado do proletariado para defender-se destas bandas fascistas que procuram destruir à vanguarda do proletariado.
Com isto o EEK se abraça aos pais da política da via “pacífica ao socialismo”, aos social-democratas Bernstein e Kautsky, e de golpe destrói as lições que extraiu o marxismo da revolução na França de 1848-51, da gloriosa Comuna de Paris de 1871, da revolução russa de 1905 e 1917… e as que também mostram o atual processo grego.
Dessa política que renuncia a destruir o Estado burguês e a conquista do poder, é de onde deriva a completa ausência em seu programa da luta por pôr em pé o duplo poder armado da classe operária e os explorados da Grécia. É que tais organismos desde seu surgimento não somente se opõem ao poder da burguesia, senão que também o carcomem e socavam, porque através dos mesmos a classe operária deixa de depositar confiança em que a resolução de seus problemas virá da mão das instituições burguesas e confia unicamente em seu próprio poder: num Congresso de operários, camponeses, explorados e soldados rasos armados, que rompe o controle do Estado sobre as massas a um grau tal que mais temporão que tarde leva a definir o conflito entre os dois poderes antagônicos existentes, desde o ponto de vista do proletariado a desatar a insurreição ao qual se opõe a direção do EEK.

Não se pode falar em nome da IV Internacional se se nega a premissa fundamental da estratégia revolucionária. Trotsky sustentava em seu livro “A História da Revolução Russa” que: “A organização em base com a qual o proletariado pode não só derrocar ao antigo regime, senão também substituí-lo são os soviet. O que depois foi o resultado da experiência histórica, até a insurreição de Outubro, era um simples vaticínio teórico verdadeiro, fundado no ensaio preliminar de 1905. Os soviet são os órgãos que preparam às massas para a insurreição, os órgãos da insurreição e, depois da vitória, os órgãos do poder”. É neste sentido que desde a FLTI, ao redor da greve geral revolucionária do 5 de maio propúnhamos como tarefa imediata, que tinham que coordenar-se e centralizar-se as organizações operárias e às massas em luta, a seus piquetes de greve e seus comitês de autodefesa e os conselhos operários, cidade por cidade, região por região e a nível nacional. Propomos que é de vida ou morte pôr em pé um verdadeiro Congresso de Delegados de Base de todas as organizações operárias que garantiram a magnífica greve geral do 5 de maio.

Por que o EEK não fez ainda um chamado para generalizar e centralizar estes organismos de luta? Por que não chamou a pôr em pé os piquetes e os comitês de autodefesa para enfrentar à repressão, nem comitês de soldados para enfrentar ao regime e às bandas fascistas que inclusive os atacam a eles mesmos? É criminoso falar do “poder operário e o socialismo” sem chamar a pôr em pé a milícia operária e o armamento generalizado para combater às forças repressivas do Estado. Já o demonstraram os trabalhadores e as massas exploradas no Madagáscar e Quirguistão! Para conquistar o pão, para que não fechem as fábricas, para não ser demitido, para alimentar a seus filhos, isto é para parar o feroz ataque que o imperialismo lançou sobre as massas do mundo, a classe operária deve armar-se como em Madagáscar, que demonstrou que “quem tem armas tem o pão”; e para atirar abaixo aos governos há que fazer como os operários super explorados do Quirguistão. Isto é que para conseguir o mínimo há que lutar por tudo.

A “greve geral indefinida” que propõe o EEK termina sendo, objetivamente, oposta à estratégia revolucionária do bolchevismo, já que se opõe aos soviets, ao duplo poder e, com isso, a que se abra a revolução na Grécia. Esta política prepara as condições para desgastar as energias revolucionárias da classe operária com uma greve geral indefinida e com as massas desarmadas, permitindo assim que a burguesia descarregue todo o peso da crise sobre as costas dos explorados, com bonapartismo, fascismo e inclusive com a volta dos coronéis assassinos.

Superabundância de direções traidoras e falta de um partido revolucionário: o limite ao combate das massas na Grécia

Estes são os custos para os trabalhadores gregos e europeus por não ter, o proletariado internacional, um Estado maior revolucionário, um partido trotskista, internacionalista e insurrecional. Os renegados como a direção do EEK, ainda tendo uma grande influência sobre setores da vanguarda operária e juvenil, não foram uma voz valente que proponha ao proletariado um programa político para resolver o conflito a seu favor, além do que encham sua boca com consignas extraídas do programa do trotskismo.

Como o expressava Trotsky na revolução espanhola as massas não podem improvisar no meio da luta, no campo de batalha uma direção revolucionária. O EEK longe está de ser um “partido pluma” que nivele a balança para a classe operária. Que mais se lhes pode pedir às massas gregas que disseram presente em cada um dos combates decisivos?

O problema se reduz exclusivamente ao fator direção. Tão é assim que as massas chocaram de frente contra a política de suas direções. Para nós se deu uma situação muito similar à da revolução russa de dezembro 1905, na qual no meio da greve geral revolucionária as massas clamavam por um combate superior.

Em relação a esse histórico ensaio geral revolucionário Lenine sustentava: “Mas a própria ação de dezembro em Moscou demonstrou de maneira palpável que a greve geral, como forma independente e principal de luta, caducou; que o movimento, com espontânea e irresistível pujança, extravasa este marco estreito e engendra a forma mais alta de luta: a insurreição”. (“Os ensinos da insurreição de Moscou” agosto de 1906, em negrito inseridos).

Lenine explicava como a greve geral tendia a transformar-se em insurreição: “A greve geral se transforma em insurreição, antes de nada, sob a pressão das condições objetivas criadas depois de outubro. Já não era possível surpreender ao governo por meio de uma greve geral: este tinha organizado as forças da contra revolução e estas estavam preparadas para atuar militarmente. Tanto no curso da revolução russa depois de outubro, como a sucessão dos acontecimentos do Moscou nas jornadas de dezembro, são uma assombrosa prova de uma das profunda teses de Marx: a revolução, ao avançar, engendra uma contra revolução forte e unida; em outros termos, obriga ao inimigo a recorrer a medidas de defesa cada vez mais extremas e, pelo mesmo, cria meios de ataque cada vez mais poderosos.” (Idem).

E, em oposição aos balanços dos mencheviques que diziam que nos acontecimentos de 1905 o problema dos problemas foi que o proletariado chegou demasiado longe, questão que também poderíamos recriminar ao EEK no sentido de que ocultaram o combate pela conquista dos soviet e o duplo poder, e portanto negaram a luta pela insurreição. Portanto, claro está, a direção do EEK se opõe a que o proletariado supere o status de seu combate e vá mais longe do que já chegou. Tal qual o faziam os mencheviques, anulam o papel do partido revolucionário que lhe entrega ao proletariado, como um de seus aportes centrais, a arte da insurreição- Lenine afirmava o que segue: “E hoje devemos, ao fim, reconhecer abertamente a insuficiência das greves políticas; devemos levar a mais ampla agitação entre as massas a favor da insurreição armada, sem tratar de escurecer esta questão com frases sobre ‘etapas preliminares’ nem de ocultá-la em forma alguma. Ocultar às massas a necessidade de uma guerra de extermínio encarniçada, sangrenta, como tarefa imediata da ação revolucionária que se vem, seria enganar-nos e enganar ao povo.” (Idem).

A política do EEK é tão criminosa já que as massas na Grécia tenderam a transformar sua luta num conflito declarado pelo poder, isto é, na insurreição. Mas encontraram como resposta a suas exigências de combate não um programa e uma direção firme, que proponha os problemas da revolução e a guerra civil com clareza, senão a covardia e o confucionismo das direções reformistas como o EEK. Aos trotskistas da FLTI isto não nos surpreende já que vimos ao partido irmão do EEK em Argentina, o Partido Obrero (PO) juntar votos para Evo Morales, o assassino de operários e camponeses; esse PO que ontem chamou a apoiar ao coronel Gutiérrez no Equador que fora derrotado pelas massas nas ruas, esse PO que conforma o coro de reformistas na revolução Argentina mudaram a consigna de “que se vão todos que não, que não fique nem um só” por uma Assembléia Constituinte com a burguesia, que hoje faz tremer à burguesia imperialista européia e mundial. Deixem de falar em nome do Trotskismo e a IV Internacional!
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Os partidos que durante as cinco primeiras greves gerais revolucionárias na Grécia não lhe propuseram à classe operária a necessidade de avançar a derrotar ao governo e ao regime para abrir a revolução e hoje, dizem-lhe que com uma greve geral indefinida é possível “abrir o caminho ao poder operário e ao socialismo” são a ala “esquerda” dos social imperialistas que na Cume do Madri chamaram a fortalecer a essa União Europa dos açougueiros imperialistas que massacram em Afeganistão e saqueiam ao mundo semi colonial. É que transformaram essa ferramenta de luta política de massas, como é a greve geral, em ações de pressão sobre a burguesia. A greve geral, em mãos das direções reformistas do proletariado, termina sendo uma paralisação de braços caídos.

Greve geral indefinida para “abrir o caminho ao poder operário e ao socialismo” ou greve de pressão para o 29 de setembro, duas caras da mesma política. Por uma e outra via estão para impedir que a classe operária confronte e derroque os governos e regimes imperialistas europeus. É assim que, até agora, impediram que o proletariado na Europa unifique suas filas numa greve geral revolucionária continental. Permitiram assim que os parasitas imperialistas passem o ataque ao conjunto dos explorados e agora dizem convocar a uma greve geral…para o 29 de setembro! Uma farsa. Enquanto eles declamavam sua greve os operários do metrô na Espanha seguiam brigando asilados e hoje se viram obrigados a levantar a greve e aceitar os planos da burguesia imperialista, enquanto o combate das massas gregas foi cercado.

Para que o proletariado da Europa viva deve soar nas ruas de Atenas, Madri, Paris, Londres nos países do Leste e na Rússia, o grito de guerra: Governo que ataca, governo que cai! GREVE GERAL CONTINENTAL, JÁ! Desde as organizações de luta da classe operária e os comitês de imigrantes há que convocar a um Congresso Continental que centralize o combate das massas desde Portugal até as estepes russas e secione na Atenas para romper o cerco das massas gregas.

Oposto ao programa reformista do EEK, desde a FLTI dizemos que para abrir uma perspectiva de triunfo o proletariado grego e europeu deve seguir o caminho de Quirguistão, que desarmando à polícia, em grandes ações revolucionária de massas, assaltou a cidadela do poder e atirou abaixo ao governo de Bakiev abrindo a revolução.

A essa cova de bandidos do parlamento europeu, há que lhe opor a unidade internacionalista da classe operária européia e mundial! Uma só classe, uma só luta! Abaixo Maastricht e a União européia! À Europa dos açougueiros imperialistas e dos novos governos burgueses do Leste europeu e da Rússia, onde a lacra estalinista restaurou o capitalismo, há que lhe opor a luta pelos Estados Unidos Socialistas da Europa!

Ou se está com a ala esquerda do V Internacional, os social imperialistas dos NPA (Novos Partidos Anticapitalistas, NdT) e sua “Cume dos Povos” (Cume realizada no Madri) que traem e entregam a luta dos explorados no mundo todo, ou se está com o programa da Quarta Internacional revolucionária de 1938 de que se abra a revolução na Grécia como um episódio da revolução européia e mundial!

POI-CI.


EEK: Partido Revolucionário dos Trabalhadores, seção grega do Comitê da Re-fundação da Quarta Internacional (CRQI) dirigido pelo Partido Obrero (PO) da Argentina.

Altamira: Principal dirigente do Partido Obrero (PO) da Argentina.

 

 
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